sábado, 6 de agosto de 2011

Nanoímãs contra o câncer e o HIV


Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) trabalham desde 1998 no estudo de Fluido Magnético Biocompatível (FMB), composto por partículas magnéticas de escala nanométrica (1 nanômetro equivale à bilionésima parte do metro). A substância é compatível com o sangue humano e pode auxiliar na condução de drogas que ajudam a combater doenças como Aids e câncer. Até o fim de 2004, serão iniciados testes com animais que sejam portadores de tumor. Na UnB, os estudos reúnem professores e estudantes de graduação e pós dos Institutos de Ciências Biológicas (IB), de Física (IF), além dos cursos de Farmácia e Odontologia.
Com o mesmo nível de salinidade e pH (potencial hidrogeniônico) encontrados na corrente sangüínea, o fluido pode ser administrado, sem problemas, nas veias humanas. No caso do câncer, anticorpos para a célula cancerosa são associados às nanopartículas magnéticas. Injetados na corrente sangüínea, os anticorpos presentes no FMB grudam na célula atingida pelo tumor. Quando o paciente é exposto a um campo magnético externo alternado – área onde a força magnética atua, mudando de direção constantemente –, a partícula presa à célula acompanha o movimento da força, vibrando. Ao vibrar, é criado um atrito que aumenta a temperatura celular, provocando uma citólise (morte da célula). Dessa forma, a magnetotermocitólise - nome completo de processo - elimina todascélulas cancerígenas do corpo humano, sendo mais eficiente que o atual tratamento com cirurgia, radio e quimioterapia.
Em 2003, os pesquisadores conseguiram desenvolver um equipamento que gera o campo magnético de freqüência alternada. Sem ele,pesquisas sempre dependeriam de materiais importados. O aparelho funciona bem e foi testado em animais saudáveis. Foram seis meses de acompanhamento. Os camundongos submetidos aos exames não apresentaram alterações morfológicas prejudiciais. O equipamento já foi até patenteado no Brasil.

ATAQUE VIRAL - O estudo também aponta a possibilidade do fluido reduzir a carga no corpo dos vírus da gripe, da hepatite C e até mesmo o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Acoplados nas nanopartículas, anticorpos específicos para o vírus a ser combatido fazem com que sejam atraídas até o agente invasor e se prendem a ele. O processo seguinte é semelhante a uma hemodiálise: o sangue passa por um tubo equipado, nesse caso, com um ímã, que resgata todaspartículas magnéticas. A carga viral dispersa na corrente sangüínea é retirada junto com os ímãs, "limpando o sangue".
Outra atuação dessa droga magnética é no exame de ressonância. Depois do processo completo de quimioterapia para o tratamento do câncer, é feito um exame de ressonância magnética para conferir se há metástases. Com o método atual, partículas menores que dois milímetros não podem ser vistas. Ao encaixar anticorpos nos componentes do fluido,partículas criam um agente de contraste magnético, sinalizando assimmicrometástases. A técnica de diagnóstico é de alta precisão.
As amostras de FMB utilizadas atualmente pela UnB são produzidas na Universidade Federal de Goiânia (UFG) e pela empresa alemã Berlin Heart. Além dessa parceria, a UnB mantém canal de pesquisa sobre o tema com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. A integração se dá por meio da Rede de Pesquisa em Nanobiotecnologia, que também compreende outras universidades brasileiras.
O Grupo de Interações Biológicas e Biomateriais (Gibb) do Departamento de Genética e Morfologia do IB, liderado pela professora Zulmira Lacava, é responsável por receber o fluido e determinar seus níveis de toxidade e compatibilidade com o organismo. Testes com camundongos permitem saber o caminho que o FMB percorre depois de entrar no corpo e suas possíveis conseqüências para o homem. Em 2004, o Gibb já começou também a analisar a resposta do fluido magnético em células de tumor bucal.
Na Física, o trabalho é feito pelo grupo coordenado pelo professor Paulo César Morais, que faz toda a caracterização magnética do fluido. É nos laboratórios do IF que são mapeadasmedidas de magnetização, cobertura molecular e composição do fluido, informa o professor, que também é vice-coordenador da Rede de Pesquisa em Nanobiotecnologia.

LIPOSSOMO – Além do FMB, outra droga magnética vem sendo estudada pelos pesquisadores. É o magnetolipossomo, formado pela associação de nanopartículas magnéticas a um lipossomo, vesícula muito similar a estruturas celulares. Essa é outra opção para o combate ao câncer. No organismo, o lipossomo pode levar medicamentos anticancerígenos diretamente para a célula cancerígena, não causando agressão às demais células do corpo. Para que os magnetolipossomos cheguem às células certas, eles podem ser atraídos por um ímã colocado em cima do local afetado, externamente ao corpo.
Outra pesquisa desenvolvida nessa linha é o magnetolipossomo fotossensibilizado (à estrutura é acrescentado um corante fotossensível). Indicado para tratamentos de câncer de pele, por exemplo, esse lipossomo fotossensibilizado chega à região onde ficam às células cancerosas e então é aplicado laser no local. O corante ativará o mecanismo de destruição das células doentes.
Além das parcerias acadêmicas, a UnB também ampliou os contatos com empresas da área de biotecnologia. Duas já fazem parte da interação, uma de Brasília e outra de Ribeirão Preto. O objetivo é aplicar comercialmente os resultados dos estudos e disseminar o conhecimento para o benefício de quem precisa.
Fonte: Brasil Medicina

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